O Governo moçambicano acusou hoje Afonso Dhlakama, líder da Renamo, principal partido de oposição, de violar o acordo de paz, por alegadamente incitar à violência em comícios.
O chefe da delegação do Governo/Frelimo nas negociações com a Renamo diz que “o acordo está a ser violado pelo presidente da Renamo nas suas deslocações às várias províncias, num acto premeditado, reiterado, de incitação à violência”.
José Pacheco acusou Dhlakama de desinformar a população moçambicana sobre a realidade política, económica e social do país, numa aparente alusão ao facto de o líder do principal partido de oposição declarar que ele e o seu movimento venceram as eleições gerais e que não deixará a Frelimo governar sozinha, sob pena de haver “confusão”.
“Ele está, de forma constante, a proferir discursos que constituem injúria e incitação à violência”, afirmou o chefe da delegação do Governo nas negociações com a Renamo.
José Pacheco realçou que o principal partido de oposição continua a condicionar a integração dos membros do seu braço armado nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) a garantias de que terá postos de comando no exército.
José Pacheco acusou ainda a Renamo de ter movimentado 20 homens do seu braço armado, da província de Niassa, norte do país, para o sul, sem comunicar ao Governo, considerando essa alegada omissão como mais uma violação do acordo sobre o fim da violência militar, celebrado a 05 de Setembro.
Por seu turno, o chefe da delegação da Renamo nas negociações com o Governo, Saimone Macuiana, rejeitou as acusações de que o líder do movimento esteja a violar o acordo, frisando que Afonso Dhlakama tem apelado à calma.
“Para o conhecimento do povo moçambicano e da comunidade internacional, queremos reiterar que Afonso Dhlakama, em nenhum momento, violou o acordo. Ele está apelando à calma de todos os moçambicanos”, afirmou Macuiana.
O chefe da delegação da Renamo admitiu que o partido fez deslocar membros do seu braço armado, mas rejeitou que essa acção seja ilegal, salientando que o grupo se encontra com Afonso Dhlakama no distrito de Vilankulo, província de Inhambane, onde o líder do movimento prossegue o seu trabalho político de esclarecimento da sua ideia de Governo de gestão, que exige como solução para a sua recusa em aceitar os resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
O apuramento nacional da CNE dá vitória à Frelimo, partido no poder desde a independência, e ao seu candidato presidencial, Filipe Nyusi. A Renamo e Afonso Dhlakama ficaram em segundo lugar e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, e o seu líder Daviz Simango, ficaram em terceiro.
Num outro desenvolvimento, o bispo emérito da Igreja Anglicana de Moçambique, Dinis Sengulane, um dos mediadores da recente crise política e militar em Moçambique, apelou aos moçambicanos para cultivarem sementes da paz.
“Da mesma maneira que na nossa tradição quem tem sementes não fica com elas em casa, mas as planta, nós também devemos plantar a semente da paz em todo o país”, disse Sengulane, no final da 89ª ronda do diálogo político. “Todos os nossos gestos, sejamos nós militares ou civis, que sejam gestos pacíficos”, acrescentou.
O chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, e o líder da Renamo assinaram a 05 de Setembro passado o acordo para o fim da violência militar, que assolava principalmente o centro do país, tendo provocado um número indeterminado de mortos e a deslocação de milhares de pessoas.